Inclusive você!
Hoje é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência! Esta data tem sido estabelecida desde 1992 pelas Nações Unidas para promover uma maior compreensão dos assuntos relacionados à deficiência e para mobilizar a defesa da dignidade, dos direitos e o bem estar das pessoas.
Certa vez assisti uma entrevista na televisão de uma pessoa com deficiência relatando a dificuldade de beber ou comer algo na casa de amigos e não conseguir ir ao banheiro depois por não ser acessível. Na ocasião o entrevistado falou: “se seu espaço não é acessível a pessoas com deficiência, na verdade, deficiente é o seu espaço”. Inclusão já!
Confesso que esta entrevista me cortou afiadamente o coração. Me recordo de, na mesma hora, ter andado pela minha casa e imaginado pessoas com deficiências frequentando-a. Degrau no portão, quintal irregular, mais degrau pra entrar em casa, portas estreitas... O banheiro? Nem se fala, pequeno e estreito! Debatemos em casa sobre essa entrevista e sobre quantas pessoas com deficiência conhecíamos e o quanto nossa casa era inacessível. Foi uma conversa forte.
Alguns anos se passaram e em março deste ano eu peguei o COVID-19. Intubei, fiquei à beira da morte mesmo! Não havia prognóstico favorável a mim! Mas em abril fui extubada e um vasto processo de recuperação. As pernas atrofiadas, com perda muscular, não conseguia andar, sequer mexê-las, não conseguia falar, não tinha força nos braços ou nas mãos, rins paralisados, precisando fazer hemodiálise e muitas outras sequelas. Muitas mesmo!
Fonoaudiólogos, fisioterapeutas, médicos e enfermeiros... tinha um time de ultra especializado cuidando de todo o processo. Voltar a falar, comer, ... voltar a respirar... Um desafio atrás do outro! Você deve estar se perguntando: o que isso tem a ver com o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência? Calma, vou explicar.
Em maio tive alta! E me deparei com o retorno à minha casa. Que alegria! Saindo de cadeira de rodas do hospital até o carro, me locomovendo com muita dificuldade. Meu marido estaciona em frente ao portão de nossa casa e... tcharam... chego à minha casa não acessível.
Lembro da sensação de impotência de não conseguir subir o degrau de 5 centímetros do meu portão. Do medo de andar, mesmo com a sustentação da família, pelo quintal irregular, não conseguir subir o outro degrau da entrada da casa. E, claro, o banheiro inacessível. Uma luta! Esta experiência mudou a minha vida, a minha perspectiva!
Quantas vezes só nos damos conta da exclusão quando nós ou pessoas próximas passam por isso?!
Este dia não é sobre mim; afinal me recuperei de cada sequela. Este dia é pra pensarmos o quanto o nosso olhar, os nossos espaços e as nossas relações precisam ser inclusivas.
A inclusão é muito mais ampla que os espaços físicos, embora seja um ponto fundamental e necessário. A inclusão precisa estar na empatia, nos relacionamentos sem capacitismo, no olhar para as pessoas pela potência que são, proporcionando a inclusão a partir da deficiência que tem.
Inclusão no mercado de trabalho em todas as funções do operacional ao estratégico, e não só em funções específicas para atender as exigências das cotas. Inclusão na escola. Importante lembrar que, recentemente o atual governo do Brasil, que trouxe muitos retrocessos nos direitos sociais, quis mexer na inclusão de pessoas com deficiência no âmbito escolar.
É preciso ampliar nossas perspectivas sobre pautas que nem sempre fazem parte de nossa vida e começar a ouvir o que estas pessoas que lutam nessas temáticas tem a dizer.
Eu não posso falar por elas, elas têm a própria voz. Mas posso compartilhar o quanto este debate tem me atingido, me tocado e o quanto me sinto compelida a partilhar meu processo de sensibilização e apoiar esta causa.
Temos muito que aprender coletivamente! A inclusão é uma pauta atrasada na mesma medida que é urgentemente atual!
Olhe ao seu redor, no seu ciclo de relacionamentos e identifique se há diversidade à sua volta! Se não há, inclusão já!
Por: Vânia Quintão
Comentários
Postar um comentário