Uma pandemia a erradicar
Quando vemos a história da humanidade, podemos destacar várias pandemias que já passamos. Já tivemos a peste bubônica que assolou a Europa no século 14 matando mais de 100 milhões de pessoas. Também tivemos a varíola por mais de 3 mil anos, e atingiu o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II na Inglaterra, Luiz XV na França. Só sendo erradicada em 1980 através de vacinação em massa.
Há outras pandemias, como: a cólera, que sofre diversas mutações causando novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos; a gripe espanhola, que matou cerca de 50 milhões de pessoas em 1918; mais recente podemos lembrar da H1N1, a primeira pandemia do século XXI, que surgiu de porcos no México no ano de 2009, se espalhou pelo mundo através de gotículas de saliva no ar, matou e contagiou bastante gente.
Hoje estamos lidando com a Covid-19 e com a necessidade de vacinação em massa para erradicar esse mal. Ainda temos que lidar com inúmeras fake news e uma vigilância coletiva com os cuidados básicos, como usar máscaras, higienização com álcool gel e manter o afastamento.
Mas, caminhando para fechar o ano, por que estamos falando de assuntos tão desagradáveis? Não seria oportuno trazer uma mensagem de esperança? É esta a nossa intenção, trazer uma fala desafiadora e de esperança.
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Há uma pandemia que persiste em destruir a humanidade a milênios, e, agravados por estes tempos atuais, tem gerado inúmeras mortes. Essa pandemia chama-se ódio e não é difícil, se estivermos bem atentos, de identificar o seu discurso no nosso dia a dia.
Nossa sociedade é a casa da minha amiga. Tem sido tratada com remendos e novas pinturas, maquiagens daqui e dali, num movimento contínuo de jogar para baixo do tapete o que precisa ser tratado e que habita na estrutura – o ódio. Talvez você esteja pensando que este é um debate de horas a fio ligado a política partidária, e é certo que até poderia ser feito isso, não é esse o caso aqui.
Nosso objetivo é convidar você a olhar para a nossa estrutura e perceber a raiz do problema, destinarmos um olhar compassivo e afetuoso e, por fim, convidar para uma grande “campanha de vacinação” de afeto. Acreditamos que assim conseguimos ir posicionando novas estruturas para que seja erguida “uma nova casa”.
Sabemos que, como parte da história do nosso país, houve a exploração de trabalho escravo de negros e índios. Este processo de colonização foi o responsável por hierarquizar pessoas pela cor da pele (garantia de ser ou não considerado humano), pelo gênero (garantia ou não de não precisar se submeter ao sexo oposto), pela classe social (garantia de ter melhor qualidade de vida ou não), pela orientação sexual (garantia de voltar para casa vivo ou não), e tantas outras questões. Basta abrir as reportagens para ver as rachaduras na parede da nossa casa!
São esses elementos que estão nas ferragens de nossa estrutura, que compõe a base fundante de nossa sociedade e que se perpetuam até os dias de hoje até que haja uma mudança na raiz do problema, no alicerce. No ano de 2020, quantas reportagens publicaram crimes que envolveram grupos populacionais específicos, trazendo à superfície o racismo, sexismo, LGBTFobia, a extrema pobreza crescente e falta de acesso a direitos básicos.
Seguindo a mesma analogia da casa da minha amiga, pensemos em um instante na possibilidade do especialista ter ido à casa dela e ter dito: “não preciso mexer na estrutura porque a parede e chão que cederam foram só as da sala e quarto, sua cozinha e quintal estão intactos.” O problema não teria sido resolvido, pois ainda estaria pautado em uma perspectiva fracionada.
Desta forma, convidamos você a ir além dos “casos de superação e sucesso”, que representam aspectos individuais, e não representam o todo, e olhar de forma coletiva, ampliada, profunda. Na raiz, na estrutura. É certo que seremos tomados por um sentimento de confronto ao sairmos da superfície e irmos ao encontro dessa estrutura. Lá poderemos encontrar a pandemia do ódio instalada e enraizada. E talvez conseguiremos identificar o quanto essa estrutura afeta nossas relações diretas, mesmo sem perceber.
Assim, convidamos você a um segundo movimento: iniciar uma mudança em todo os relacionamentos, e estabelecer uma postura ética de não tolerar a intolerância.
Segue aqui um desafio: iniciarmos o ano de 2021, fazendo uma autoanálise, adotando novas posturas pautadas no respeito e na tolerância, na coexistência pacífica das diferenças, sem que essas se tornem desigualdades. Bem como, não tolerarmos mais que a nossa casa (a nossa sociedade) permaneça fundada no ódio e na intolerância, cobrando, mobilizando e construindo novas formas de sociabilidade que não essas que já estão postas.
Nós somos a Meta Assessoria em Desenvolvimento Humano, especialistas em conteúdos ligados a gestão de pessoas e inclusão, sempre pela perspectiva da diversidade.
Finalizamos com uma citação:
“Pequenos gestos de intolerância são um chamariz para os intolerantes. Semelhantemente, pequenos gestos de gentileza e cordialidade podem desarmar espíritos, fazendo prevalecer o respeito, e, sobretudo, o amor.” (Fernandes, 2020, pág 31)
Referências Bibliográfica
REVISTA GALILEU. Conheça as cinco maiores pandemias da história. <https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2020/03/conheca-5-maiores-pandemias-da-historia.html> Acessado em 15/12/2020.
FERNANDES. Hermes C. Intolerância Zero: um manifesto pela coexistência pacífica entre as religiões e demais segmentos sociais. Edição especial. Editora Invictus. RJ. 2020.
Por: Vânia Quintão
Publicado na Revista Encontros:
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