O mito da Mulher Maravilha
Há uma história que sempre contamos aqui na Meta. A criação da personagem Mulher Maravilha. Ela foi criada por Charles Marston, pseudônimo do doutor William Moulton Marston, psicólogo e inventor. E, numa crítica ao fato da maioria dos super-heróis serem homens e, as mulheres, nos quadrinhos, serem relegadas a papéis secundários, estreou na edição All-Star Comics, número 8 de dezembro de 1941. Logo se tornou a mais emblemática super-heroína dos quadrinhos.
O pano de fundo para a criação dessa personagem foi, sem dúvida a mitologia grega, tratando das questões próprias sobre o papel das mulheres numa sociedade dominada pelo masculino, cenário que foi recentemente representado nas telas do cinema através do filme Mulher Maravilha. Este apresenta o mundo das amazonas, na ilha de Themyscira e o estilo de vida e formação das mulheres para independentes e guerreiras imbatíveis. Diana, que se tornará a super-heroína, é filha da rainha Hipólita.
Ainda podemos destacar outros pontos interessantes, como, segundo a mitologia grega, as amazonas teriam sido criadas por Zeus para proteger os humanos contra a ira de Ares. Elas integravam uma sociedade de mulheres guerreiras, sem a presença dos homens, nem sequer sua entrada. Eram independentes e lutavam com os homens que tentavam dominá-las. O filme mostra esses dois mundos. O das amazonas, escondido, matriarcal e dos humanos, em constante guerra, estritamente patriarcal.
É certo que existem muito mais informações sobre Marston, o criador da Mulher Maravilha, e sobre a mitologia grega, pano de fundo dessa personagem, mas o que queremos destacar aqui é esse papel de “super-heroína” imputado a nós.
Quem já não ouviu sobre “papéis naturalmente de homens” (prover a casa, carregar peso, tomar decisões) e “papéis naturalmente de mulheres” (ser mãe, cuidar da casa, ser afetiva)? Talvez você possa responder que as coisas mudaram porque as mulheres estão presentes em todos os espaços. Então, sigamos com algumas perguntas!
Quem estipulou o que é “dom natural” ou “papel natural” de homens e mulheres?
À medida que as mulheres entraram em espaços antes exclusivamente masculinos, quem assumiu o trabalho desenvolvido com a casa e a família?
O que fazemos com os trabalhos e papéis “naturalmente femininos”? Mantemos como sendo ainda nossos? Algum homem os assume? Delegamos a outras mulheres, seja de forma remunerada ou através de arranjos comunitários ou familiares?
Conquistar os espaços e papéis antes considerados como masculinos não fez com que os homens avançassem para os espaços e papéis que ainda são considerados femininos. Não é mesmo? Ao contrário!
O acúmulo de atribuições, papéis e trabalhos vão reforçando estereótipos, como a suposta habilidade feminina de ser multitarefas, o suposto “dom natural” para o cuidado da casa e filhos, e tantos outros rótulos. Enquanto estes estereótipos se mantém sobre as mulheres, os homens vão se mantendo isentos de assumir novos/ outros papéis.
Como uma empresa 100% feminina, acreditamos que a mulher pode ocupar o espaço que quiser, bem como se libertar de qualquer papel que lhe seja imposto/ designado e que não queira exercer. Somos fortes e capazes, inclusive para dizer não, basta!!!
Não ao estereótipo de “super-heroínas”, aos papéis e atribuições oportunamente construídos e reforçados, de geração a geração, que nos sobrecarregam e que podem e precisam ser redistribuídos, inclusive e principalmente com os homens, sob o risco de nos mantermos submissas a essa relação desigual e a um enorme esgotamento bio-psico-social.
Nossa reflexão passa pela gratidão a tantas mulheres que existiram antes de nós, através das conquistas dos movimentos feministas (como o direito à educação, ao trabalho, ao voto, a ser reconhecida legalmente como um ser pleno). Passa também por compreender que ainda precisamos seguir na conquista para dizer não a outros papéis que insistem em se apresentar como nossos e que podem e precisam deixar de ser, se assim quisermos.
Referência bibliográfica:
CASTRO. Susana. O Mito moderno da Mulher Maravilha, in: Revista Redescrições – Revista, online do GT de Pragmatismo e Filosofia Americana, ano 3, nº2, 2011. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/Redescricoes/article/view/15386>, acesso em: 02 fev. 2021
LIMA, Sávio Queiroz. Elmo, Escudo e Bota: três mundos gregos para a Mulher-Maravilha (GRÉCIA ANTIGA, DÉCADA DE 40 E DÉCADA DE 80), in Anais Eletrônicos das 2as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos. USP. 2013. Disponível em: <http://www2.eca.usp.br/jornadas/anais/2asjornadas/Artigo_Savio_Queiroz_Lima.htm>, acesso em: 02 fev. 2021.
MOURÃO, Hele Reis. Mulher Maravilha – Um novo paradigma para a mulher moderna. 13 de março de 2020. Disponível em: <https://www.jungnapratica.com.br/mulher-maravilha-hellen/>, acesso em: 02 fev. 2021
QUINTÃO, Vânia; VALENÇA, BARROS, Nívia; REIS, JOSELIA FERREIRA DOS. INTERSECCIONALIDADE, TELETRABALHO E A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO: DESAFIOS NA PANDEMIA E NO PÓS-PANDEMIA.. In: Anais do 9º Coninter. Anais...Campos dos Goytacazes(RJ) UENF, 2020. Disponível em: <https//www.even3.com.br/anais/coninter2020/298518-INTERSECCIONALIDADE-TELETRABALHO-E-A-DIVISAO-SEXUAL-DO-TRABALHO--DESAFIOS-NA-PANDEMIA-E-NO-POS-PANDEMIA>. Acesso em: 02/02/2021 18:32
Por: Vânia Quintão
Publicado na Revista Encontros:
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